Textos
Essas gajas são loucas, Ta Basily!
Lázaro Mabunda – O País – 30 de Janeiro 2009
Há muito que as organizações feministas procuravam deslize de uma figura pública para vender, em praça pública e em leilão, os seus produtos e pressionar a Assembleia da República a aprovar a lei contra a violência doméstica, uma lei, diga-se, nociva às relações entre cônjuges, à sociedade e aos traços culturais.
Curiosamente, na mesma altura em que lavrava esta coluna, a apresentadora do programa “Saiba +”, da TV Miramar, julgo ser Eunice Andrade, estava a propagandear um produto chamado “N’weti”. Contava o caso de uma jovem que foi violentamente espancada pelo seu parceiro, mas não foi capaz de revelar as razões do seu espancamento. E desabafou: “Em pleno século XXI, as mulheres devem dizer basta a violência doméstica”, revelando a sua frustração com o homem como se o homem fosse a causa do efeito.
Na mesma ocasião, eu lia um dos artigos que publicamos no nosso jornal (O Pais) sobre a violência domestica em Maputo, em 2008. No referido artigo, Maria Sopinho, coordenadora do Gabinete da Mulher e Crianças do Ministério do Interior, apresenta dados interessantes: “das vítimas de violência domestica, 2.388 são mulheres, 1.196 homens e 431 crianças”.
Para qualquer ser humano mínima e mentalmente saudável, estes dados são reveladores de alguma preocupação. Tanto o número de mulheres, como de homens que foram violentados, são elevados. Mais, falou de cinco homens gravemente agredidos.
Bem interpretado, este número é revelador de que há muitos homens que, por vergonha, não vão reportar as atrocidades de que são alvo de suas parceiras. (In)justamente porque não existe sequer um organismo para a defesa dos interesses e dos direitos dos homens. No dia que houver esse organismo, a realidade virá ao de cima: o número de homens queixosos, se calhar, será duplamente superior ao das mulheres.
Voltando ao título, as organizações que defendem os interesses femininos correram a 16 velocidades para, violentamente, condenarem Ta Basily pelas pancadas que deu à esposa. Até merece. Mas, mais do que pegar no efeito, o que é óbvio, essas organizações, se bem que queiram minimizar os problemas de violência doméstica, deviam ter procurado saber e conhecer as causas que levaram o jovem músico a protagonizar aquelas cenas. Estou convicto de que Ta Basily – até reconheceu publicamente, no programa televisivo “Moçambique em Concerto”, que o maior erro que havia cometido na vida tinha sido de ter aplicado uma chapada a sua esposa – a quem pediu perdão publicamente – não espancaria, daquela forma, a mulher que ele ama, acima de tudo, sua esposa, com quem vive há anos. E mais do que correr para crucificar o agressor, as organizações feministas, tal como a comunicação social, deviam analisar as declarações das amigas da agredida, segundo as quais, conforme disse uma delas, “vínhamos tratar alguns assuntos”. Ora, nem o jornalista que a entrevistou se dignou procurar saber que assunto iam tratar com a esposa de Ta Basily? Por que? Ta Basily, de repente, proibiu a esposa de brincar com elas? Por que é que, de repente, Ta Basily decidiu que elas não deviam entrar na casa dele? Por que elas insistiam em entrar numa casa em que o proprietário não as quer? Há quanto tempo elas brincam com a mulher de Ta Basily? Por que Ta Basily violentou a esposa? Quais terão sido as causas frequentemente das brigas?
As lições da vida ensinaram-me que por detrás de uma violência há outra violência, ou seja, mais do que atacarmos os efeitos é preciso que ataquemos, primeiro, as causas desses efeitos. Um dos problemas deste país consiste em se procurar, misteriosamente, os efeitos em detrimento das causas do efeito, como se conhecer o efeito fosse o passo essencial para combater o problema. Quer dizer, invertem a teoria de que para combater o mal e preciso conhecer as suas causas.
Ora vejamos: a forma como as organizações feminista tratam os problemas de violência é semelhante às estratégias usadas pelas instituições de combate ao SIDA, que consiste em colocar, em primeiro plano, os efeitos (os números e as consequências) que a violência assim como o SIDA têm na sociedade, esquecendo, propositadamente, que o mais importante nisto não é saber ou dizer que há mais violência no Centro, Norte ou no Sul do que no Sul, Norte ou no Centro do país. Ou que há mais SIDA no Centro, Norte ou no Sul do que no Sul, Norte ou no Centro. Porém, que as traições, as más amizades, as ambições desmedidas, entre outras, constituem causas de tanta violência no Centro, Norte ou Sul. Ou ainda que as relações sexuais sem o recurso ao preservativo (cujas razões também se desconhecem), as questões culturais, são as principais causas do elevado numero de contaminações nas zonas Centro, Norte ou Sul.
Isto tem uma explicação. As organizações feministas encontraram na violência doméstica um “poço de dólares” para a sobrevivência dos seus membros. Quer dizer, violência doméstica, à semelhança de SIDA, constitui hoje uma das principais fontes de receitas domésticas de muitos moçambicanos. Se quiserem, meus senhores e minhas senhoras, procurem saber quanto ganham, por mês, os membros dessas organizações? Concluirão que os seus salários, alias, subsídios conforme nos tentam transmitir, estão avaliados em bons dólares. É neste contexto que elas procuram, por tudo ou por nada, generalizar um caso particular em nome da defesa dos seus subsídios e não, propriamente, da mulher como tal. Algumas dessas propagandistas são espancadas, diariamente, pelos seus maridos e vice-versa, mas em nenhum momento manifestam publicamente a sua situação.
Em algumas sociedades, bofetadas são sinónimos de amor, ou seja, há zonas em que uma mulher quando não leva algumas bofetadas, acha que o seu parceiro não a ama. Até é capaz de levar o caso a reflexão familiar ou mesmo abandonar o lar.
Por outro lado, conforme a definição, violência doméstica não é apenas violência física. Há muito mais como a verbal, sexual, financeira, psicológica, entre outras. Muitos falam de violência sexual, em que o homem obriga a sua esposa a fazer sexo. E o contrario não é violência? O que as mulheres dizem quando os maridos estão sem vontade? Que fez lá fora! Não é? E não é um problema aqui em casa? Então, como podemos chegar à conclusão de que houve violência sexual?
Em todo o caso, que fique claro que os problemas de violência domestica são estruturais, pelo que não serão resolvidos por uma lei simplesmente avulsa, tendenciosa e atentadora as relações conjugais; que os problemas de violência doméstica, em algumas zonas, são culturais; que é quase impossível erradicar a violência doméstica devido ao ambiente em que nos encontramos inseridos, o que causa situações que desemboquem em violência, tendo como autores as duas partes; que a violência domestica surgiu com o próprio homem e com o próprio homem a violência desaparecerá; que a lei, que insistem que deve ser aprovada, para ser justa, tem que considerar que a violência doméstica é protagonizada tanto pelo homem como pela mulher.
Que fique ainda claro que ninguém tem o direito de ter uma vontade que o outro. Há dias “sim” e dias “não”. Que haja entendimento de ambas as partes sem retaliação e acusações.
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