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Omitidas

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A sociedade civil manifestou-se na inauguração dos X Jogos Africanos

 

Breves

Sociedade civil agradece o trabalho do Bispo de Pemba

21
Fev
2021

Dezanove organizações da sociedade civil subscrevem um comunicado de valorização do trabalho e da obra do Bispo de Pemba, que agora deixa o país. Começam dizendo “Cuchucuro”, que em Emakhwua quer dizer “Obrigado”.
Leia a seguir o comunicado na íntegra.

Cuchucuro Dom Luiz Lisboa, pelo que fez pela Província de Cabo Delgado

O Contexto

Dom Luiz Fernando Lisboa foi nomeado Bispo de Pemba pelo Papa Francisco em Junho de 2013. O contexto social enfrentado na Diocese de Pemba foi caracterizado por um período de violenta penetração do capital, exercendo uma forte pressão sobre terras e reassentamentos populacionais no Nordeste de Cabo Delgado, por uma intensa conflitualidade nas minas de Montepuez, com graves violações de direitos humanos, assim como um aumento da pobreza e desigualdades sociais. A partir de 2017 iniciaram os primeiros ataques em Mocímboa da Praia, com níveis de violência macabros, alastrando-se nos anos seguintes por todo o Nordeste da província, desencadeando meio milhão de deslocados e uma grave crise humanitária.

O trabalho realizado

O trabalho de Dom Luiz foi notável, não só ao nível da denúncia de violações dos direitos humanos, na montagem de toda uma rede de assistência humanitária às populações deslocadas, complementando ou até substituindo-se ao Estado, mas também ao nível da promoção do diálogo inter-religioso e nos apelos à construção da Paz. Dom Luiz Fernando Lisboa nunca deixou de ser a voz dos mais desfavorecidos, chamando a atenção nacional e internacional para a violência da pobreza e da injustiça social, exercendo uma pressão para uma sociedade mais justa e menos desigual. O resultado foi a conquista de um carisma alargado junto das populações de Cabo Delgado, entre cristãos e muçulmanos.

A Teologia da Libertação

O trabalho de Dom Luiz Fernando Lisboa foi claramente influenciado pela Teologia da Libertação, corrente que emergiu na América Latina no último quartel do século passado, num contexto caracterizado por profundas contradições sociais. Trata-se de uma teologia política que, reinterpretando a fé Cristã, preconiza um papel mais activo da Igreja na defesa dos mais pobres e injustiçados, na libertação de injustas condições económicas, sociais e políticas.

O trabalho do Bispo de Pemba foi também inspirado pelo pensamento do Papa Francisco, também ele incutido pela teologia da libertação. Na Encíclica Laudato Si o Papa Francisco apela aos cristãos a adoptarem uma cidadania activa na gestão do nosso planeta, definido como a casa comum, condenando políticas económicas predadoras do ambiente.

A denúncia de graves contradições sociais, na defesa dos mais fragilizados, foi entendida, em círculos conservadores próximos do poder, como uma ameaça ao Governo, iniciando-se uma campanha de difamação e de ameaças contra o Dom Luiz Fernando Lisboa, perante a complacência do Governo central. Ao invés de se representar o Bispo de Pemba como um parceiro do Estado na denúncia da violência e na construção de uma sociedade mais integrada e inclusiva, a reacção foi de ostracização e de isolamento de quem não fazia parte do problema, mas da sua solução.

A história repete-se duas vezes?

Num contexto de guerra, de injustiça e de sofrimento social a experiência de Dom Luiz Lisboa foi similar à de outras forças progressistas da Igreja, na denúncia da exploração e injustiças coloniais ou das atrocidades cometidas pelo exército português. Dom Manuel Vieira Pinto, Bispo de Nampula, membros dos Padres Brancos, dos Padres Burgos ou de Missionários Combonianos também emitiram posicionamentos sociopolíticos defendendo os direitos das populações locais. Na época recorreu-se à imprensa para vilipendiar aqueles que colocavam em causa os interesses do Estado colonial-fascista, tendo acabado por ser expulsos de Moçambique.

Alertamos para o risco de recriação de um Estado fascista, corporativo e defensor do grande capital que, em nome do patriotismo, hostiliza vozes independentes ou críticas do sistema de relações sociais, entre os quais jornalistas e investigadores, activistas ambientais ou de direitos humanos e membros de organizações religiosas. A intimidação de vozes alternativas não eliminará as contradições sociais, pelo que o Governo deve encarar as diferentes forças sociais não como inimigos, mas como aliados na identificação de problemas e construção de estratégias sustentáveis.

Agradecendo a sua coragem ao longo de um período muito difícil, desejamos a Dom Luiz Lisboa sucesso no seu futuro, em termos de saúde e de trabalho missionário, na continuidade dos princípios que o nortearam como Bispo de Pemba e cidadão do Mundo.

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