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Omitidas

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Contra a violência de género

Jogos05_small

A sociedade civil manifestou-se na inauguração dos X Jogos Africanos

 

Breves

O rapto das meninas nigerianas é responsabilidade de todas e todos

Desenho de Malangatane
19
Mai
2014

Mais uma crónica da Feminista Durona, publicada n’@ Verdade (edição nº 287, de 16 de Maio de 2014), que interpela as cidadãs e os cidadãos sobre a sua responsabilidade na eliminação da violência contra mulheres e crianças.

Leio com muita mágoa e dor que, no norte da Nigéria, mais de 200 meninas foram raptadas durante a noite, nos dormitórios de uma escola. Aconteceu há cerca de um mês, mas durante mais de duas semanas não se falou no assunto, não se divulgou e, aparentemente, pouco foi feito para as trazer de volta para as suas famílias.

O grupo que as raptou (Boko Haram) é seguidor de uma política islâmica extremista, que defende que a educação ocidental deve ser erradicada, porque as mulheres foram criadas para cuidar dos filhos, do marido e da casa em geral. O seu porta-voz diz que vai vender as meninas como escravas e que foi Alá que o instruiu nesse sentido.

Perante esta situação criminosa e chocante fico a pensar quão pouco valor tem a vida das meninas e das mulheres. Apesar de todas as leis, programas e declarações de intenção, continuam os sequestros de mulheres em tempo de guerra, com o seu cortejo de violações, exploração sexual e sevícias várias. Em tempos de “paz”, a guerra prossegue em casa com formas bárbaras, mais ou menos explícitas, de violência doméstica. As violações sexuais aumentam de forma alarmante sobretudo em meio urbano, em cidades cada vez menos preparadas para acolher uma população crescente e que não oferecem segurança às mulheres.

É como se houvesse uma guerra declarada às mulheres, que é camuflada com discursos bonitos e por algumas figuras femininas em lugares de chefia, apresentadas como exemplo de que se avança nos caminhos da igualdade. Será?

Tudo isto para dizer que o rapto das meninas da Nigéria mostra o quanto está mal a situação das mulheres. Não só por uma barbaridade destas ser ainda possível no século 21, mas também pelas reacções. Se é verdade que hoje existe uma campanha internacional para buscar apoios para se resgatarem as meninas, não é menos certo que o governo nigeriano levou semanas até tomar uma posição.

E no nosso país? O que faz o governo moçambicano para pressionar o governo da Nigéria? Onde estão os clérigos islâmicos a condenar o grupo extremista Boko Haram? Onde estão as organizações de direitos humanos (e não só as organizações de mulheres) a manifestarem o seu repúdio? E por onde andam os humanistas em geral?

Porque este crime não diz só respeito às mulheres, tem a ver com todas/os nós. Tem a ver com quem se preocupa com a dignidade humana e com justiça. Porque é a nossa complacência com a violência contra as mulheres, no mundo inteiro, que permitiu que este rapto monstruoso acontecesse.

Espero que as meninas da Nigéria regressem a salvo às suas casas e que os seus raptores sejam levados à justiça e que medidas sejam tomadas para que isto nunca mais aconteça. E já agora, que o mundo inteiro se levante e diga que chega de violência contra as mulheres e reconheça a sua qualidade de ser humano. Que os políticos coloquem a luta contra a violência sobre as mulheres como um aspecto central nas suas agendas e que as instituições de justiça funcionem para defender as vítimas e deter os agressores. Que nas escolas se ensine que mulheres e homens têm os mesmos direitos, para que enfim comece uma nova era em que todas e todos possamos viver em paz, em segurança e como cidadãs e cidadãos de pleno direito.

feminista.durona@gmail.com

WLSA Moçambique

Publicado no jornal @ Verdade, edição nº 287, 16 de Maio de 2014

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