Breves
Nova Pesquisa: Passagem para a Idade Adulta
Em breve, a WLSA Moçambique iniciará uma nova pesquisa sobre a passagem para a idade adulta e o papel e a função dos ritos e cerimónias de iniciação.
A pesquisa sobre Identidades Sociais publicada em 2008 permitiu conhecer os mecanismos que orientam a construção social das identidades sociais das e dos jovens aluna/os do primeiro nível do ensino secundário.
Tendo como objectivo central a identificação e a análise dos trânsitos entre a tradição cultural (veiculada pelo senso comum) e a modernidade na configuração das identidades, este estudo demonstrou que uma parte importante de jovens, principalmente raparigas, rejeitam, pelo menos em algumas dimensões identitárias, a imposição da subalternidade, como é o caso do surgimento de um discurso de expectativas construídas em torno do trabalho e da formação escolar. Esta ruptura com a formatação patriarcal, em jovens que foram sujeitas a ritos de iniciação pode pôr em evidência a alteração da função dos ritos e portanto a sua inutilidade social/cultural e/ou pelo contrário pode ser demonstrativa apenas da mudança de alguns dos mecanismos de dominação masculina, sem que esta seja estruturalmente questionada. Por outro lado, assiste-se (insistentemente nos últimos anos) ao recurso à cultura e à identidade cultural moçambicana por parte dos agentes políticos para justificar a manutenção de uma ordem social totalizante e conservadora, que permite excluir, ignorar e controlar o exercício dos direitos humanos das mulheres.
Por estas razões é necessário continuar a aprofundar algumas das questões levantadas pela pesquisa, nomeadamente o papel dos ritos de iniciação na permanência da desigualdade de género, com especial relevância para os “casamentos” prematuros, pitakufa1 e outras cerimónias que retiram direitos.
Neste quadro durante os próxios 24 meses será realizada uma pesquisa sobre a passagem para a idade adulta e o papel e a função dos ritos e cerimónias de iniciação.
Pretendemos com este trabalho:
1. Analisar a evolução dos ritos de iniciação nas últimas três décadas, principalmente no que respeita ao seu conteúdo e função de agentes de mediação;
2. Identificar a existência de uma relação entre rituais e cerimónias de iniciação e subordinação de género;
3. Analisar se as rupturas no conteúdo “tradicional” dos ritos como parece ser o caso de um discurso sobre o HIV/SIDA e sobre a importância da escola, determina ou não (e até que ponto) a construção da desigualdade.
O grupo alvo desta pesquisa são as e os jovens entre os 10 e 15 anos que frequentam o 2º nível do ensino primário e o 1º do ensino secundário. Os informadores privilegiados são as matronas e outros actores que dirigem os ritos, os religiosos (padres, pastores e imãs), agentes de saúde e professores.
Nota:
1. “Pitakufa” é um ritual de purificação que obriga a mulher viúva a dormir com o irmão do marido falecido.
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analisa a evolução